Porque não há nada mais melancólico e sentimental que os domingos, hoje, porque é domingo, decidi escrever.
As casas enchem-se de visitas, a rua têm muitos carros estacionados, só há algumas casas que não têm ninguém. É aos domingos que o meu Maia joga. É aos domingos que os velhotes se deslocam com a sua boina, as suas calças velhas de fazenda (parecem mais velhas do que eles, imagine-se!), vão ver o futebol (vão ver a bola, dizem eles), na esperança de aliviar a sua angústia, o seu cansaço existêncial, a sua morte quase tão próxima, e enquanto isso eu aqui sentado acho a velhiçe uma coisa horrível, algo terrível. Uma pessoa olhar-se ao espelho e não sermos nós, sermos passado, sermos saudade, sermos tudo (uma tentativa se querer ser tudo) para compensar aquilo que não fomos.
É aos domingos que sinto os aromas da verdadeira comida portuguesa: mulheres de avental fazendo apetitosos almoços para darem ás visitas. Depois ouvem-se os sinos: é também o dia oficial da missa.
Domingo é domingo. Domingo é eu olhar para a rua e não ver praticamente ninguém (pelo menos na minha rua é assim). É eu sentar-me no beiral da janela do meu quarto e reparar nas casas e ver através das janelas pessoas falando umas com as outras, falando de um modo e de um jeito que se percebe, mesmo não ouvindo o que dizem, que se trata de um domingo.
Domingo de tarde é ouvir: "golooooo!" do estádio do Maia quando o Maia marca.
Aos domingos o chilrear dos pássaros é diferente. É mais intenso.
Nos verões, os domingos também são diferentes dos outros dias da semana: ouvem-se o zumbido dos mosquitos, o tilintar das louças nas cozinhas e o silêncio das ruas.
É ao domingo e só ao domingo (raios partam o domingo!) que varia tudo o que me rodeia, a rotina, os pássaros, as casas, menos eu... É ao domingo e só aos domingos que olho para o fundo da rua, naquela altura em que as coisas trespassam a barreira do visível, que me lembro de ti. Prometo-te que é só aos domingos, é só aos domingos.