Agosto 27 2007

 

 

 

Lembro-me de aos sábados de tarde ir pescar com o meu pai. Pegávamos nas canas de pesca e partíamos para uma verdadeira aventura de pai e filho. Muitos não se podem orgulhar de ter vivido alguma… cabe-me, no entanto, admitir que tive muitas aventuras com o meu pai.

            Lembro-me quando pescamos o primeiro peixe: um robalo. Fizemos uma festa enorme. Enquanto pescávamos, por vezes, o Sol Poente batia-me na cara e punha-me a cara quente. Era feliz. Não pensava muito e era feliz. Recordo com saudade desses tempos em que colocávamos o chapéu de pescador, cada um com a sua cana e a respectiva caixa de material de pesca e lá íamos nós… quem não gostava nada destas aventuras era a minha mãe, coitada. Sempre preocupada com a minha integridade física, medo que alguma onda mais severa pudesse levar o seu único filhinho (sim, admito que sou um filho único muito mimado). Todavia, eu e o meu pai prometíamos sempre muito cuidado e precaução nas nossas pescarias.

            Pescámos em sítios espectaculares, principalmente no Douro. Paisagens lindíssimas que enchem o coração a qualquer um. E por vezes no meio do sossego da paisagem, quando já estava cansado de apreciar a encosta esbelta, o meu pai para mim:

           

- 1-0;

 

(enquanto segurava um peixe ainda preso no anzol.)

 

 

            O meu pai sempre quis competição. Sempre gostava de mostrar que sabia pescar melhor que eu, que era melhor que eu em tudo, inclusive na pesca.

            Aqueles momentos entre pai e filho eram inesquecíveis e certamente que aprendi muito com isso. Hoje quando o meu sistema límbico faz questão de me trazer estas coisas á mente, penso no que será a minha relação com um eventual futuro filho meu. Prometo que procurarei ter momentos de pura aventura com ele. Momentos que lhe proporcione lembranças felizes e um crescimento de camaradagem inigualável, tal como a relação com o meu pai me proporcionaram.

            Hoje o meu pai é das pessoas mais velhas que conheço. Só pensa em dormir todas as tardes. Está um velho. Pode nem ser velho na idade, mas têm uma mentalidade de velho. A camaradagem com o meu pai acabou. Resta-nos de vez em quando recordar aqueles momentos. Aqueles momentos em que quando íamos pescar para os sítios mais perigosos, aqueles momentos em que, por vezes, faziam grandes tempestades e tentava-nos abrigar, aqueles momentos em que fazíamos amigos na pesca: o Zé, o Mário, o Armando (chegou a pescar o maior peixe que já vi!), o senhor do cachimbo que agora não me lembro do nome, o carteiro dos CTT que de vez em quando lá ía pescar, entre muitos outros.

Agora estou aqui a escrever, o meu pai certamente sentado em alguma cadeira pensando na vidinha e á espera de mais um dia de trabalho. A nossa relação resume-se á recordação de episódios mais felizes do que estes, certamente.

 

publicado por Simao_psi às 13:52

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